quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Morte e o Facebook

Ontem aconteceu algo que eu nunca tinha vivido antes e não sabia como reagir.
Faleceu um amigo de Facebook.
Era alguém que eu nunca conheci pessoalmente.
Falávamos, esporadicamente, apenas pelo Face.
Não era próximo mas também não era distante.
Uma daquelas pessoas que frequentam os comentários dos seus amigos e você acaba adicionando na troca de risadas e posts curiosos.
Mas o que me chamou atenção é que na hora em que li sua morte no Facebook veio aquele choque igualzinho aos que a gente leva quando alguém conta a morte de uma pessoa que você conhece pessoalmente.
No primeiro segundo até duvidei.
Vinha rolando a timeline pra baixo, como de costume, lendo um post aqui e outro acolá, quando vi ao lado do nome da pessoa a frase que ela tinha morrido e quando seria o enterro.
Pisquei.
Seria uma brincadeira?
Não. Seria muito mau gosto.
E apesar de não ter tanto contato assim com a pessoa, piadinha boba e de mau gosto não eram, definitivamente, sua persona virtual.
Pelos comentários entendi que era o filho.
Postando no perfil do pai para que todos seus amigos virtuais soubessem.
Aí veio o desconforto.
O que dizer?
Não conhecia a família.
Aliás, nem a própria pessoa que havia morrido.
Só sabia o nome.
Nem a cidade onde morava eu ao certo sabia.
Pelos posts sempre imaginei que fosse alguma cidade no exterior, mas nem isso eu saberia dizer com certeza.
Nem idade, nem cidadania, por causa dos posts em línguas diferentes, nem nada.
Aliás, nem sei dizer ao certo como e nos comentários de qual amigo em comum nosso bate-papo começou.
Mas é isso que eu mais admiro nas redes sociais.
Conversar com pessoas pelo simples prazer da conversa.
Independentemente de qualquer condicionamento e pré-conceitos sociais.
Não sabia ao certo quem era, nem qual sua história.
Só lembro das palavras sempre educadas e generosas.
Lembro que sempre que eu postava minhas infindáveis reclamações de aeroportos, ele sempre mandava comentários solidários.
Eu ria e brincava que sempre lembrava dele nos momentos de raiva nas viagens.
Piada de rede social.
Nossa última conversa acho que foi sobre Fernando Pessoa.

Mas e aí, quando morre alguém assim, de quem você gosta muito na rede social mas não tem a menor intimidade presencial, fazemos o quê?
Acabei deixando lá no post um comentário simples dizendo à família apenas que apesar de nunca tê-lo conhecido pessoalmente ficava o meu sentimento de tristeza e solidariedade aos parentes.
Foi estranho.
Assim como nada sabia da vida também não soube da morte.
Não sei como ele morreu, se estava doente ou se foi algo súbito.
Só hoje, para escrever esse post, fui lá na página dele e li a carta que o filho escreveu.
Ali, por um único post, soube, enfim, de toda a sua vida.
Riquíssima.
Daquelas vidas bem vividas que a gente percebe na generosidade da conversa, das palavras interessantes - e sempre amáveis.
Acho que nunca tinha perdido alguém assim.
Tão distante e de certa forma tão próximo.
Lembro que uma vez morreu uma pessoa que constava da lista de contatos do meu antigo e-mail.
Sempre que eu percorria a lista e via o nome pensava o que fazer.
O que a gente faz?
Deleta o nome de um morto da lista?
Nunca tive coragem.
Sempre me pareceu indelicado e duro demais.
Mas sempre doía um pouco ver aquele e-mail lá parado, inativo.
Hoje eu não uso mais a conta e não passo mais por esse desconforto.
O ´problema´ desapareceu sem que eu tivesse, necessariamente, que tomar uma decisão.
No Facebook a vida segue de outra maneira.
A única coisa que sei é que vou sentir falta dos posts carinhosos que ele volta e meia mandava nas minhas constantes viagens.
Amigos virtuais também deixam saudades.