Por Dayse Espíndola
Um fim de tarde bonito, inverno.
Fui a uma cafeteria comer doce.
Sabe aquele desejo incontrolável por um pudim de leite condensado?
Acreditem, eles existem por aqui!
Pedi, paguei e sentei próxima a um balcão para esperar.
Do meu lado, dezenas de chineses.
Coisa mais do que comum.
Nem um minuto longe dela, nem um minuto de pé e, de repente, ela: a minha bolsa sumiu, desapareceu, evaporou!
Tinha acabado de tirar todo o dinheiro do banco para comprar presentes para o Natal e levar para o Brasil.
Dentro: minha carteira, dois cartões de crédito, um do banco chinês (através do qual recebo a bolsa de estudos), o celular que demorei meses para comprar, cartão telefônico e todos os documentos brasileiros: carteira de identidade, CPF, etc.
Tudo bem.
Nada de drama.
Nada do que não poderia acontecer (e claro, acontece) no Brasil.
Mas a sensação de em um segundo para o outro estar absolutamente sem nenhum dinheiro, nenhuma moedinha a 18.000km de casa acho que não pode ser igual.
Um desespero.
Sensação de "E agora? O que eu faco? Vou passar fome sozinha, na China!"
Pedi emprestado o celular de um chinês ao meu lado, liguei para uns amigos.
Foram me buscar.
Para o dinheiro, deu-se um jeito.
Até meu pai conseguir enviar alguma coisa para um banco e eu sacar com o passaporte.
Sim! O passaporte estava intacto na minha casa!
Mas aí, entra a parte interessante da história: a polícia, os furtos e os chineses!
Depois de toda a confusão, fui com uns amigos à delegacia fazer um Boletim de Ocorrência.
O lugar estava vazio e o policial foi muito prestativo.
Sentamos, eu e uma amiga italiana que fala mandarim quase que perfeitamente.
Ele começou as perguntas.
Nada menos do que 3 horas e meia em que tive que responder indagações como:
Quantos centímetros de largura tinha a sua bolsa?
Qual era a cor de dentro?
Quantas divisões tinha a bolsa?
Era verdadeira ou falsa?
Comprada aqui ou no Brasil?
Quanto de dinheiro em notas (quais as notas), quantas moedas exatamente?
Isso, fora a pergunta mais estranha pra mim: Voce gostava da bolsa?
Bom, nao propriamente.
Ou sim.
Não sei mais.
Gostava de ter dinheiro pra comer.
Isso sim, com certeza.
Mas não reclamo.
Se saber tudo isso contribui para encontrarem a bolsa, muito bem.
Os furtos são comuns na China.
E como quem nao sabe, ensina, vale um conselho:
Atenção em dobro à máquinas fotográficas, celulares e bolsas!
Bicicleta, se você tem, um dia vai perder.
Não se preocupe.
Acontece.
Todo mundo já teve uma furtada.
Interessante é que em todos os lugares há cartazes e anúncios pedindo para a população ficar atenta com seus pertences. Nos ônibus, um alto-falante diz isso o tempo todo.
Se não podem evitar, pelo menos avisam.
No mesmo triste dia de mais uma experiência "oriental", no Brasil, meu pai foi assaltado.
Com uma arma na cabeça.
Tensão, medo, ameaças.
No fim, deixaram o meu pai e levaram o dinheiro.
Na China, há furtos, mas não há assaltos e roubos.
Só o Estado tem armas e isso pode não parecer fazer diferençaa, mas faz muita.
Você sabe que podem furtar sua bolsa, mas tem a certeza que não vão te ameaçar, humilhar, ou colocar uma arma na sua cabeçaa para conseguirem isto.
Parece um pouco ignorância dizer: "Levem tudo, mas não machuquem."
Mas me parece menos horrível isso do que quando lembro daquele menininho João Hélio, por exemplo.
Claro que bom seria um Estado que garantisse completa segurança.
Mas como não existe em nenhum lugar do mundo, pelo menos que população civil e bandidos não tenham armas.
Isso é o que acontece na China.
Ninguém vai chegar armado em você.
Dos males, o menor.
Dinheiro a gente trabalha, estuda e consegue de novo.
A vida é uma so, ninguem devolve ou recupera.
PS: Claro que tambem tenho críticas a um Estado que acredita ter o direito de matar.
Mas isso é uma outra longa discussão.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
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