sábado, 30 de agosto de 2008

Medo Do Gustavo

O sábado não está sendo fácil para os que estão próximos ao Gustavo.
Esse rapaz aí ao lado na foto.
Agora de manhã ele se aproxima de Cuba com ventos de até 185km/h.
Ganhou força durante a madrugada.

E está deixando gente em pânico das Ilhas Cayman até Houston, no Texas.

Gustavo é o sétimo furacão da temporada 2008 no Atlântico.
Tem um diâmetro gigantesco.
520 km.
Deve chegar à Cuba nas próximas horas na categoria três - daquela escala que vai até cinco.
Não é pouca coisa não.
Havana já está em estado de alerta.
É que Gustavo pode entrar na categoria quatro antes mesmo de chegar à Cuba.

Nos EUA, o medo já deixa em frangalhos o coração de uma população traumatizada.
Meteorologistas prevêem que Gustavo passe pelo Golfo do México e chegue em algum lugar do Texas à Louisiana em 72 horas com a mesma força do Katrina.
Por isso, em Nova Orleans o clima é de pânico.
O The New York Times, para variar, está fazendo a cobertura mais completa do estado de espírito de uma população, que, não podemos esquecer, tem tudo mesmo para se sentir traumatizada.
Milhares de pessoas, mesmo sem ordem oficial de evacuação, já estão deixando suas casas.
Ninguém quer pagar para ver se Gustavo vai crescer ou minguar.
É um luxo que eles não podem se dar.
O prefeito da cidade avisou ontem que pode haver ordem oficial de retirada amanhã, domingo.
Mas quem teve a vida destruída pelo Katrina não quer saber de esperar.
Eu também não esperaria.
Hoje de manhã já teve gente pobre que, não dispondo de carro para sair correndo a qualquer momento, pediu para ser levada a abrigos em estádios, igrejas e centros cívicos.
Na região existem mais ou menos 30 mil pessoas - idosos, pobres, doentes - que precisarão ser abrigadas nesses lugares.
Hoje, antes das oito da manhã, no Tremé, o bairro negro histórico que fica ao redor do French Quarter, já tinha gente suficiente nos pontos especiais de evacuação para encher dois ônibus.
Antes mesmo das seis da manhã homelesses já estavam na fila.

E aquelas cenas de sempre de partir o coração.
Michelle Barnes, uma senhora pobre moradora do French Quarter, tinha os olhos em lágrimas porque não teve permissão para entrar no ônibus com o seu cãozinho, o Jack.
É que existe uma ordem que os animais de estimação só podem ser retirados e levados para abrigos com os donos se estiverem em caixinhas adequadas.
E a senhora Barnes simplesmente não tem uma casinha de cachorro.
No mesmo ponto, o Senhor Melvin, de 69 anos.
Morador que já aprendeu a lição.
Escreveu em cartões o nome dele, telefone e endereço, assim como o da irmã, uma senhora de 86 anos, que vive em cadeira-de-rodas.
Tudo para não acontecer o que aconteceu no Katrina.
Milhares de famílias separadas na correria e que depois não conseguiam se encontrar.

E as confusões de sempre.
Os dois primeiros ônibus do dia não tinham aquela suspensão na porta para a entrada de deficientes físicos.
Resultado, nem a irmã do Senhor Melvin, a de 86 anos, nem uma outra senhora de 82 anos, também cadeirante, conseguiram embarcar.
Só que outra lição que o Senhor Melvin também já aprendeu foi não esperar.
Se outro ônibus adaptado não chegasse logo ele ia levar a irmã para a estação de trem, onde é mais fácil para os cadeirantes entrarem.
Por sorte, tudo acabou bem.
Às nove da manhã, finalmente chegou uma van especial para deficientes.
E as duas senhoras conseguiram embarcar.

Num outro ponto de evacuação da cidade, quase a mesma cena.
A retirada estava marcada para começar somente hoje à tarde, às quatro.
Mas em Nova Orleans, ninguém, depois do Katrina, confia em esperar.
Às nove e meia da manhã, 50 pessoas e 12 animais de estimação já tinham sido embarcados.

O medo fica maior a cada hora porque o Gustavo não fez durante a madrugada uma espécie de "curva", a qual se esperava.
Por enquanto ele continua numa trajetória em direção à Louisianna e Nova Orleans, uma cidade ainda frágil, se reconstruindo.
O próprio prefeito é favorável que as pessoas não esperem.
Quem puder, que saia logo.

Até em Houston, o medo é grande e a CNN não pára de mostrar imagens de estradas congestionadas de moradores em fuga.
Em outras cidades da Louisiana, já há ônibus retirando moradores e hoje à noite começa a vigorar um toque de recolher.
Por isso, desta vez, torcemos todos, o governo americano tem que ser menos incompetente.
No Mississipi o governador já ordenou que 4 mil pessoas desalojadas pelo Katrina, e que hoje vivem em traillers, evacuem a área.
No Texas, cinco mil soldados da Guarda Nacional estão em alerta.
Em Nova Orleans, os presos já estão sendo retirados das prisões.
Assim como os animais que vivem em abrigos públicos.

Gustavo é forte.
Já matou 78 pessoas no Haiti, República Dominicana e Jamaica.

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