sábado, 5 de julho de 2008

Uau

Essa é realmente incrível.
Parece que os cientistas finalmente descobriram o segredo dos violinos Stradivarius.
É que uns pesquisadores alemães escanearam cinco dos violinos feitos pelo talentoso italiano Antonio Stradivari no começo do século 18.
Os raios-X em 3-D mostraram que a madeira usada nos Stradivarius tem uma densidade uniforme excepcional.
E com apenas uma pequena variação nos anéis que as árvores acumulam a cada estação do ano.
Ou seja, estes anéis menos permeáveis podem ser o que deu aos Strads suas qualidades harmônicas.
Ou, como diriam os mais apaixonados, a perfeição harmônica dessas pequenas obras-de-arte.

Mas o que eu mais gostei de saber nessa pesquisa foi a referência à Pequena Era do Gelo [meu período climático favorito, re re].
Para nossa sorte, e para a do Stradivari, ele viveu exatamente nesta época, quando as árvores cresciam um pouco mais no verão do que no inverno.
Sendo assim, o que pode ter feito a excelência do Stradivarius pode ter sido o clima e não, ao contrário do que se pensou, as fervuras e submersões da madeira em tanques.
Para quem quiser há mais informações sobre o estudo no blog da Wired.

Mas eu não poderia deixar de encerrar o post sem contar o dia em que eu segurei um Stradivarius em minhas modestas mãos.
Foi em Nova Iorque.
Eu tinha ido fazer uma entrevista com um luthier francês tradicionalíssimo, naquele prédio tradicionalíssimo, ao lado do tradicionalíssimo Carnegie Hall, na tradicionalíssima 57th St.
A entevista era sobre o uso da nossa madeira querida, o pau-brasil, nos melhores instrumentos do mundo.
Para quem não sabe, os melhores violinistas do mundo, os daquelas maiores orquestras do mundo, têm sempre os melhores violinos do mundo, com os melhores arcos do mundo, arcos estes feitos com ???
Pau-brasil.
A madeira considerada a mais nobre para um arco de violino.
Mas antes de estufarmos o peito e sairmos cantando 'Salve a Pátria-Mãe Gentil' é bom saber que nem sempre o pau-brasil é brasileiro.
Há muitos arcos feitos com pau-brasil importado da Índia.
Mas, bem, estava lá eu encantadíssima com o gentilíssimo luthier, filho, neto, bisneto e trineto de luthiers, quando ele mui amavelmente perguntou se eu gostaria de ver um Stradivarius com arco feito de pau-brasil.
Sim, claro, imagina.
Pois eis que o velho luthier, em meio a uma improvisada sala de consertos de violino, me abre um cofre na parede e puxa uma caixa.
Pequena, eu lembro, mas linda, de uma madeira daquelas com uma aura de nobreza que só as coisas muito valiosas e antigas conseguem ter.
E foi essa a primeira coisa que eu reparei num Stradivarius.
'Nossa, como ele é pequeno'.
É que eu acho que até então eu nunca tinha visto nenhum violino assim tão de pertinho ou que não estivesse empinado entre o queixo e o antebraço de alguém num palco.
De cara, já fiquei encantada.
Mas o melhor veio a seguir.
Sem que eu esperasse o luthier estende o violino pra mim e pergunta, 'quer segurar ?'.
Uau, penso eu.
Sim, claro, ahn, bem, o que você responderia nessa hora ?
E ele, então, estica pra mim o Stradivarius, com a firmeza de alguém que estende um filho a um estranho.
Eu, ainda meio surpresa, pego o violino com o maior cuidado, agradecida pela confiança depositada.
Sem ter mais o que fazer em meio ao nervosismo, meio que comento e pergunto ao mesmo tempo, 'Nossa deve ser valioso, não' ?
'Um milhão e oitocentos mil dólares', responde o velhinho.
Olha, eu não sei nem descrever qual deve ter sido minha cara.
Sabe quando a gente arregala os olhos, abre a boca e meio que sem querer bota a língua pra fora, tudo ao mesmo tempo ?
Pois é, deve ter sido algo assim.
Porque eu não lembro de mais nada.
Só lembro da minha perna tremer, o joelho querer dobrar e as minhas mãos começarem a suar.
Era o pânico.
Como assim ?
Como subitamente eu era responsável pela segurança física de quase dois milhões de dólares ?
Logo eu, a estabanada.
Meu destrambelhamento é público, notório e folclórico.
Já virou até motivo de piada entre os meus amigos mais próximos.
'Esse velho é louco', pensei eu.
'No mínimo irresponsável'.
'Um porra-louca, só pode ser isso'.
'Como é que alguém deixa algo de tamanho valor histórico assim na MINHA mão' pensava eu com leve taquicardia.
Bom, só sei que tudo isso deve ter durado no máximo uns 5 segundos.
O tempo de eu arregalar os olhos, abrir a boca, com a língua à mostra, sentir a perna bamba e o suor na mão.
Imediatamente devolvi o Stradivarius ao luthier dizendo com aquele sorriso que a gente dá quando treme de nervoso, 'Nossa, dois milhões de dólares, ra ra, é melhor o senhor segurar, ra ra, já pensou se eu deixo cair, ra ra'.
Patético [rs].
Eu adoraria poder contar alguma história linda sobre a emoção do momento mas foram esses meus cinco segundos de glória com um Stradivarius em mãos.
O violino mágico criado por um mestre.
Antonio.
O italiano que escolheu as árvores certas para criar uma das mais belas obras-de-arte da história.

Nenhum comentário: