domingo, 5 de outubro de 2008

O Rio de Janeiro Continua ...

Blogo do Santos Dumont.
O sexto aeroporto da semana.
Mas aqui tudo é muito diferente.
O Santos Dumont, na maioria das vezes, pode ser melancólico.
Mesmo quando cheio, está sempre vazio.
Ficou lindo após a reforma.
Moderno, espaçoso, mas há sempre cadeiras demais vazias.
Atendentes entediados nas muitas das poucas lojas visitadas.
E eu sempre tenho a mesma sensação.
O Santos Dumont é o Rio que gostaria de ter sido.
Os guichês todos bem planejados não recebem a quantidade de passageiros esperada.
Não há gente suficiente para sentar nas cadeiras do check-in.
É um aeroporto frio.
Sem tantas pessoas assim para refrigerar nos famosos dias de Rio 40 graus.
Eu vim ao Rio para votar.
Até hoje não transferi o título.
O que por um lado reclamo.
Por outro, votar aqui me faz pensar mais na cidade.
E no seu aeroporto saudosista.
Hoje mais ainda.
Voto num reduto da classe média carioca.
Naquele que é o maior símbolo dos longínquos anos 80.
Quando reportagem sobre o enclausuramento da classe média em condomínios seguros era interessante.
Com o tempo se tornaram apenas desgastadas.
Com mais tempo ainda vieram as reportagens sobre uma das heranças dessas ilhas de segurança.
Jovens pitbulls espancadores de prostitutas, traficantes de drogas vindas dos morros "aparthaidos", que se divertem se achando o Daniel Day Lewis em Gangues de Nova Iorque.
Seria patético se não fosse triste.
Muito triste.
O Rio de Janeiro continua lindo.
Mas parece uma daquelas senhoras traídas pelo marido há exatos 22 anos.
Cidade linda, aeroporto lindo, mas um certo ar de beleza fatigada.
O aeroporto e a cidade parecem melancólicos.
Mesmo nos dias lindos de praia.
Dias em que o carioca continua, desde os tempos do Pier 70, aplaudindo o pôr-do-sol em Ipanema.
Mesmo quando o avião faz a curva entre o Pão-de-Açúcar e o Aterro do Flamengo.
No Santos Dumont, a voz metálica me convida a embarcar.
E eu vou embora lembrando da velha senhora.
Mas não consigo deixar de pensar.
Parto sem melancolia.
No fundo não gostaria de pensar assim.
Mas quem mandou ficar tanto tempo casada com esse marido ?

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