Foi mais ou menos assim.
La Guardia, aeroporto doméstico de Nova Iorque.
Três e vinte e cinco da tarde o vôo 1549 recebe autorização para decolagem.
Um minuto e meio depois já voa 200 metros acima da pista, direção norte.
No mesmo horário e no mesmo lugar pássaros voam majestosos em formação perfeita.
Tanto o piloto, comandante Sullenberger, quanto o co-piloto, Jeff Skiles, veem eles se aproximando.
Tudo indica que o bando vai passar por baixo da aeronave.
Mas quando o comandante 'Sully' percebe, eles já estão à sua frente.
Grandes.
Marrom escuro.
Muitos deles.
O primeiro instinto é embicar o avião para baixo.
Mas não dá tempo.
Vêm os baques.
Um cheiro de queimado.
E silêncio depois que as duas turbinas param.
Neste momento o Airbus A320 plana no céu apenas mil metros acima do Bronx.
As turbinas estão tão mortas que um comissário de bordo diz mais tarde, em depoimento, que parecia que estavam todos numa biblioteca.
Da decolagem ao pouso no rio foram, no total, cinco minutos.
Um minuto e meio quando tudo começa.
Os controladores de vôo não detectam os pássaros no radar e ainda dão instruções de subida quando o comandante Sully avisa no rádio que alguma coisa está muito errada.
'Aaah, aqui é Cactus 1549, perdemos força nas duas turbinas, estamos voltando para La Guardia'.
Apenas alguns segundos se passam, antes que ele anuncie outro destino.
La Guardia está muito longe.
Assim como Teterboro, aeroporto em Nova Jérsei.
O comandante percebe que seu avião está 'devagar, muito devagar' e perto de muitos prédios altos para dar tempo de chegar a algum aeroporto.
Seguir para Nova Jérsei é arriscar um choque 'catastrófico' numa vizinhança populosa.
'Não podemos fazer isso', diz ele para o controlador de vôo, 'vamos para o Hudson'.
Tudo isso faz parte dos depoimentos dos pilotos, dos três comissários de bordo e dos controladores de vôo, feitos ontem ao National Transportation Safety Board, a agência americana de aviação, similar ao nosso D.A.C.
Neles, podemos perceber o quão rápido as coisas aconteceram durante o vôo.
Que era para ser a última perna de um dia de quatro viagens.
A tripulação começara o dia em Pittsburgh, voara para Charlotte, na Carolina do Norte, fora para La Guardia e voltava para Charlotte naquela tarde.
Uma controladora de vôo disse que os pássaros vieram do nada.
Mas outros radares na região confirmam que a trajetória dos pássaros se encontrou com a do avião quando a aeronave estava a 879 metros.
Na cabine, os passageiros percebem na hora que alguma coisa está errada.
Ouvem um baque e depois o silêncio sinistro.
Uma névoa.
E os comissários sentem o cheiro de algo metálico queimando.
Um passageiro da primeira classe diz, 'acho que acertamos um pássaro'.
No cockpit o comandante Sully assume o vôo de Skiles.
O co-piloto havia feito a decolagem mas tem menos experiência com o Airbus.
'Sua aeronave', diz o co-piloto, ao passar o comando.
Enquanto o comandante rapidamente estabiliza o avião para evitar perda brusca de velocidade e pensa onde pousar, Skiles tenta fazer as turbinas voltarem a funcionar.
Ao mesmo tempo em que procura numa lista de três páginas procedimentos para pousos de emergência.
Em geral, esses procedimentos começam a 11 mil metros.
Dessa vez eles têm que começar a 909 metros.
O comandante faz um giro para a esquerda, passa o avião planando sobre a ponte George Washington e mira no rio.
Sua melhor aposta.
Em caso de pousos na água, pilotos são teinados para pousar próximos a barcos para que possam ser resgatados antes de afundar ou morrer congelados em águas frias.
O comandante Sully não poderia ter escolhido local melhor.
O Hudson ali é um canal de 15 metros de profundidade, sem obstruções, e a apenas poucos minutos de barco dos terminais de ferryboats de Manhattan.
Tudo é tão rápido que eles nem têm tempo de acionar o modo de 'pouso-na-água' do avião.
Um procedimento que estufa a fuselagem para haver menos impacto na água.
Três minutos e meio depois que os pássaros se espatifaram contra o avião ele avisa pelo interfone.
'Preparem-se para impacto'.
'Cabeças para baixo', gritam os comissários para os passageiros.
Câmeras de segurança num pier de Manhattan capturaram o pouso espetacular.
Quanto mais eu vejo [aqui] mais eu fico impressionada [começa aos 2:02].
O avião vem suave, como se fosse pousar em solo, e desliza de barriga pelo leito do rio.
Dois comissários descrevem como 'um pouso duro' - nada mais.
Um impacto.
Não há pulos.
E em seguida uma desaceleração gradual.
Nenhum comissário percebe que haviam pousado na água.
O que rapidamente muda quando a tripulação abre duas portas e um escorregador de água se abre automaticamente.
Os outros são acionados a mão.
Passageiros pegam colete salva-vidas e assentos infláveis.
No fundo do avião, uma comissária consegue impedir um passageiro de abrir a porta traseira.
Iria entrar uma torrente de água.
O jeito era sair pela frente.
Só quando os passageiros vão saindo é que ela começa a se sentir zonza.
É quando percebe que tem um corte profundo na perna - a única ferida grave de todos a bordo.
O comandante Sully - acho que já falei disso aqui no Migrante - percorre a cabine duas vezes antes de abandonar o avião
Quer se certificar de que não há mais ninguém a bordo.
Até sábado ele ainda não havia falado com a imprensa.
Mas, disse alguém no depoimento, ele não poderia estar mais contente que ninguém por ter conseguido tirar todo mundo do avião são e salvo.
E o avião?
Bem, o avião foi finalmente retirado do rio sábado à noite.
A parte de baixo da fuselagem está em frangalhos e retorcida.
Pedaços de painéis faltando mostram que o avião foi meio que 'descascado'.
Sinais de um pouso duro - forte o suficiente para a aeronave se partir mas suave e lento o suficiente para salvar 155 vidas.
Três minutos e meio.
E a diferença entre viver e morrer.
Mais informações sobre o depoimento da tripulação na matéria da AP.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Note to self: nunca viajar de avião em época de migração de pássaros.
[e se tiver que voar preferência para vôos do comandante Sully]
Postar um comentário