A melhor reportagem sobre a Olimpíada da China na edição de hoje do The New York Times está na seção dos pais, a parenting.
Uma longa matéria com Deborah Phelps.
A mãe de Michael Phelps.
O rapaz aí na capa da Time.
Michael é o terceiro e único filho de Deborah.
Já nasceu maior que o mundo.
Com mais de 4,2 kg e quase 59 centímetros.
Quando era criança, contou Deborah ao NYT, Michael fazia 25 zilhões de perguntas, sempre querendo ser o centro das atenções.
Adorava pedalar loucamente em seu triciclo de grandes rodas.
Já na pré-escola os professores reclamavam.
Michael não conseguia ficar quieto na hora de todo mundo ficar quieto.
Michael não sentava na hora de todo mundo sentar em círculo.
Michael vivia cutucando as outras crianças.
Michael estava sempre de ti-ti-ti chamando a atenção dos coleguinhas.
Seus professores eram taxativos.
Comportamento imaturo.
Desde o jardim-de-infância era isso.
Professores reclamando.
Michael não senta quieto.
Michael não cala a boca.
Michael não consegue prestar atenção em nada.
Não era fácil para a Senhora Phelps ouvir isso todo santo dia.
Ainda mais sendo ela mesma uma professora por 22 anos.
A família havia acabado de se mudar e ela achava que Michael podia estar irritado porque as aulas que ele tinha na nova escola eram muito parecidas com as que ele já havia tido na escola anterior.
Deborah chegou a ter o seguinte diálogo com uma professora:
"Talvez ele esteja entediado."
A professora não mediu as palavras.
"Ah, ele não tem talento."
A mãe retrucou.
"Não foi isso que eu disse."
Para não bater mais boca com a professora Deborah apenas perguntou:
"E o que você vai fazer para ajudá-lo ?"
No ensino elementar Michael só ia bem nas aulas de que gostava.
Ginástica e aulas práticas, como as de experiências no laboratório de ciência.
Ele até lia mas não era muito fã.
Na tentativa de fazê-lo ler qualquer coisa a mãe dava a ele as páginas de esporte do jornal local.
Nem que fosse para ele ver as fotos e ler as legendas.
Qualquer coisa já estava bom.
Um dia a Senhora Phelps ouviu de uma professora.
"Seu filho jamais será capaz de se concentrar em alguma coisa".
A vida dos Phelps não era lá muito feliz nessa época.
Deborah estava se separando do pai de Michael.
Tinha voltado a estudar para conseguir um diploma de administradora e, ao mesmo tempo, tinha que ser mãe integral de três crianças.
Enquanto isso Michael ia crescendo meio esquisito.
Suas orelhas eram enormes.
E quando ele corria os braços balançavam abaixo dos joelhos.
As crianças zombavam dele.
E no dia em que ele meteu a mão em um engraçadinho desses no ônibus foi suspenso do transporte escolar por vários dias.
Quando Michael estava na quinta série, durante o check-up anual, a Senhora Phelps e o médico da família discutiram se o menino não sofria de TDA/H - Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade.
Nesta época os Phelps já eram uma família de nadadores.
Aos 15 anos, a irmã mais velha de Michael, Whitney, foi a melhor nadadora do país nos 200 metros de nado borboleta.
Mas sua carreira foi encerrada após um ferimento na coluna.
Os filhos do médico de Michael também nadavam e o doutor já havia percebido o comportamento do garoto nas provas de natação das irmãs.
Michael corria de lá pra cá feito um louco derrubando a comida das pessoas.
O médico, então, pediu uma avaliação dos professores.
Consenso.
Ele não consegue ficar parado.
Não consegue ficar calado.
Não consegue se concentrar.
Aos 9 anos, Michael passou a tomar Ritalin, um medicamento estimulante para tratar a hiperatividade.
A mãe acha que ajudou um pouco.
O menino pareceu ficar concentrado mais tempo.
Começou a fazer o dever-de-casa sem ficar se levantando o tempo todo.
Ainda era um aluno mediano.
Passou de alguns Cs para Bs.
Mas dois anos depois Michael pediu para não mais tomar o remédio.
Se sentia estigmatizado.
Todo dia na hora do almoço tinha que ir à enfermaria da escola receber a dose do medicamento.
Um dia, do nada, disse:
"Mãe, eu não quero mais fazer isso.
Meus amigos não fazem.
Eu consigo lidar com isso sozinho."
Como mãe Deborah Phelps sempre foi severa mas também sempre incluiu a opinião dos filhos nas decisões.
"Por isso, eu o ouvi." diz ela.
Consultou o médico e decidiu suspender o Ritalin.
Nesse meio tempo surgiu Michael, o nadador.
Aos 10 anos ele já fazia parte do ranking nacional da sua idade.
A mãe, então, observava o garoto que não conseguia parar quieto na escola durante quatro horas esperar pacientemente para nadar cinco minutos nas provas.
Aos 11 anos, seu treinador no clube da cidade, Bow Bowman - técnico dele até hoje - chamou a família num canto e disse.
"Em 2000 Michael estará nas eliminatórias da Olimpíada.
Em 2004 ele estará na Olimpíada.
Em 2008 ele vai quebrar recordes mundiais.
Em 2012 a Olimpíada será em Nova Iorque e ..."
"Chega, Bob," disse a Senhora Phelps, "ele tem o-n-z-e anos de idade e ainda está na escola."
Bem, conforme se viu, Michael andou quatro anos mais rápido do que a previsão do técnico - e Nova Iorque acabou perdendo a eleição para sediar a Olimpíada.
Enquanto Bob Bowman profetizava o talento do garoto, na escola Michael continuava a dar trabalho.
Aos 12 anos precisava de professor particular de matemática e continuava inquieto nas aulas.
Mesmo assim todo dia acordava às seis e meia da manhã para treinar uma hora e meia.
E nadava de duas a três horas toda santa tarde.
E assim lá se foi o garoto problemático entrando para a História.
Aos 15 anos, em 2000, Michael Phelps já estava na Olimpíada.
Aos 16, quebrou seu primeiro recorde mundial.
E aos 19, nos Jogos Olímpicos de Atenas, ganhou 8 medalhas.
SEIS de ouro.
De todos os seus talentos o que mais impressiona a mãe até hoje é a mente.
"A mente de Michael é como um relógio.
Ele pode nadar os 200 metros borboleta sabendo que precisa fazer os primeiros 50 metros em 24.6 segundos para quebrar o recorde.
E ele é capaz de botar esse tempo na cabeça e fazer o corpo nadar o trecho em exatos 24.6 segundos."
Michael - o garoto que nunca foi bem nos deveres-de-casa - na natação sempre fez muito bem o dever-de-casa.
No ginásio a escola enviava para ele as fitas gravadas com suas competições internacionais.
E Michael pedia à mãe para jantar em frente à TV para assistir às fitas.
"Nós sentávamos e ele analisava as provas," conta Deborah.
"Olha, ali foi quando eu levantei a cabeça," criticava ele.
"Eu nem conseguia perceber do que ele estava falando," diz a mãe.
"E ele assistia de novo e de novo."
Hoje em dia, Deborah Phelps, 57 anos, é diretora de uma escola em Baltimore.
O filho TDA/H é tão admirado que este ano ela foi contratada por um laboratório farmacêutico como mãe-celebridade para responder perguntas sobre sua experiência com o transtorno de Michael num site patrocinado pela companhia.
Como muitos pais, ela sofreu e até hoje tem dúvidas sobre ter dado Ritalin ao filho.
"Eram tantas coisas ao mesmo tempo - o divórcio, o crescimento dele, a mudança de escola."
E num arroubo de honestidade ela mesma faz a pergunta.
"Será que o remédio foi a coisa certa ?
Eu poderia estar certa ou errada.
Mas foi a decisão que tomei."
É.
Os Phelps são mesmo especiais.
Para o repórter do NYT a moral da história é que ... a história de Deborah dá esperança aos pais de qualquer criança com algum transtorno como o TDA/H.
Enquanto todos os adultos só viram o que o filho da Senhora Phelps não conseguia fazer, esta semana o mundo vai assistir ao que o menino-problema pode fazer.
Para ler a reportagem original do NYT clique aqui.
domingo, 10 de agosto de 2008
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