Quem se interessa pela China não pode perder as aventuras de Sérgio Utsch na Olimpíada.
Sérgio, além de amigo e excelente repórter, é o piloto do Argumento, blog em que neste momento posta suas impressões sobre Beijing.
Meu post favorito até agora é o "O Sucesso do Nestor".
Não deixe de ler.
Até porque conheço o Nestor.
E já posso vê-lo sorridente pela China.
Pedi ao Sérgio um texto especial para o Migrante.
E lá do outro lado do mundo, 11 horas à nossa frente, ele mandou este relato.
Sempre li muita coisa sobre a ditadura militar do Brasil e sempre me frustrei quando meus pais, que viveram esta época na calmaria das montanhas de Minas, pouco sabiam me dizer da dita "repressão".
Adolescente, já me imaginava jornalista, mas nunca aqui na China, tendo minha curiosidade saciada com o "modus operandi" oriental.
Logo que cheguei aqui, para a cobertura dos Jogos Olímpicos, já estranhei a burocracia em tudo o que envolvia a polícia.
No aeroporto, eu e a equipe que trabalha comigo tivemos que apresentar o mesmo documento para cinco policiais diferentes, num espaço de menos de cem metros !
Seguimos as orientações e nos apresentamos na delegacia do bairro onde estamos hospedados.
Precisávamos fazer o registro de chegada, necessário pra todo estrangeiro e também pra todo chinês que não é da capital.
Mas o capítulo mais picante dessa minha história com os homens de uniformes azuis ainda estava pra ser escrito.
Eles nos visitaram duas vezes no apartamento onde estamos morando.
Na primeira, não estávamos.
Por isso, tivemos que fazer uma nova visita à delegacia.
A segunda visita foi numa daquelas circunstâncias em que nós lembramos de todos os conselhos que recebemos, aqueles que sempre achamos exagerados.
Eu estava baixando algumas fotos da internet para o meu micro. E
ram imagens de uma campanha que a Anistia Internacional havia desistido de levar adiante, uma campanha em que eles usavam temas e esportes olímpicos pra lembrar as inúmeras denúncias de torturas e outros casos de desrespeito aos direitos humanos pelo governo chinês.
Baixei uma foto, tomei água, respondi emails e a página estava lá aberta, esperando novos comandos.
Quando eles vieram e eu terminei de baixar a última foto, que simulava uma luta de boxe com um monge budista tibetano sendo espancado, a campainha tocou.
Pode ter sido coincidência, uma grande coincidência.
Mas o que me intriga é que também pode não ter sido.
Três policiais chineses chegaram armados.
Um tinha uma câmera, o segundo, uma prancheta e o terceiro, um olhar amedrontador.
Não perguntaram sobre as fotos.
Num inglês sofrível e quase incompreensível, pediram passaportes, visto de entrada, registro na polícia, tiraram minhas fotos, perguntaram o que eu fazia, de onde vinha e outros questões de pouco importância.
Não sei se estou sendo monitorado.
Não sei se o frio que senti na barriga quando os policiais entraram no apartamento e eu pedi ao meu amigo em português que desligasse rapidamente o meu computador faz, realmente, sentido.
Pena que não posso perguntar aos meus pais se eles já sentiram isso um dia.
Por Sérgio Utsch
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
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